Eu me chamo Pedro, e esta é uma breve história da minha vida
Olá, meu nome é
Pedro. Eu tenho 50 anos de idade e moro sozinho em minha nobre mansão que fica
de frente para um mar majestoso, exuberante e incrivelmente lindo. Suas águas
são tão azuis que às vezes penso se não é o próprio céu que mudou de lugar.
Sou o exemplo de um
homem que dedicou a sua vida ao trabalho. Um homem que buscou acima de qualquer
coisa na vida, uma realização profissional. Nunca me casei, não tenho esposa e
nem filhos. Na verdade, eu estou neste momento, sozinho, sentado sob a sombra
de uma árvore, a meditar sobre o que realmente tem valor nessa vida. Quem sabe
talvez alguma boa alma passe por aqui e se importe comigo, me chame para
conversar, e deseje ser meu amigo de verdade. Agora, mais do que nunca, eu
desejo ter verdadeiros amigos.
Na loucura e na correria
do dia-a-dia, ninguém tem tempo pra nada! Ninguém encontra tempo para as coisas
que não dependem do dinheiro. E não foi diferente comigo. Além do mais, passei
parte de minha vida correndo atrás de estabilidade financeira, acabei deixando
para fazer amigos depois... Isso não tinha a menor importância para mim.
Meses atrás
descobri que estou gravemente doente. O meu médico me disse que estou com uma
doença que não tem cura, que já está em estágio avançado, e me restam apenas
alguns meses de vida. Isso caiu feito uma bomba na minha cabeça. E estou
completamente sozinho sabe!
Hoje, olhando da
sacada da minha mansão para o mar vasto e exuberante estendido à minha frente,
pude observar o voo fascinante de duas gaivotas. Não consegui segurar minhas
lágrimas e chorei como uma criança. E chorei porque, mesmo com toda a fortuna
que eu acumulei durante todos esses anos árduos de trabalho, eu não conseguirei
realizar com esse dinheiro o sonho de ter a minha saúde restaurada. Senti-me
abandonado e inútil. Senti-me como um grão de areia no deserto sendo levado
pelos ventos fortes da vida.
É muito difícil
enfrentar uma solidão, e ainda por cima, estando doente. Saber que não terei
ninguém para me dar apoio neste momento, porque não construí uma família, não
construí verdadeiras amizades, não construí uma vida plena de amor e companhias
leais. Os “amigos” que eu tive antes de ficar doente eram amigos do meu
dinheiro. Foram-se todos embora. Chega a
doer no fundo de minha alma, quando penso que dei valor a pessoas que nunca
mereceram a minha amizade.
Às vezes até
invento alguma coisa para me distrair. Jogo uma paciência no computador.
Assisto a um bom filme. Vou à igreja participar das celebrações e até participo
da organização dos eventos da igreja. É o único lugar em que me sinto
valorizado e acolhido, logo eu que, nunca tive interesse nas coisas que se
referem a religiões, agora é o único lugar que realmente encontro companhia
para conversar e ter um pouco de alento. Outro dia o sacerdote me elogiou,
disse que eu sou um homem de bem, que devo agradecer a Deus por estar passando
por tantos sofrimentos, porque, como diz ele, “estou purgando os meus pecados”,
e isso quer dizer que não levarei para a “vida eterna”, uma alma carregada de
excessos e de pecados.
As minhas empresas,
eu nem sei mais como andam. Elas estão todas nas mãos de administradores que
contratei, porque não tenho mais disposição física e mental para cuidar delas. Eu
já não tenho mais ânimo para nada.
Penso em como seria
diferente se eu tivesse tido filhos, um lar de verdade, amigos... Sei que, no
fundo, fui eu mesmo o verdadeiro culpado pela sina que me envolve. Com a minha
fixação em construir o meu patrimônio, não tive tempo para mais nada. Para
ninguém. Pelo contrário, quase atropelei o próprio tempo, corri contra ele
durante a maior parte da minha vida.
Se eu pudesse
voltar ao passado eu mudaria tanta coisa em minha vida! Tanta coisa! Mudaria os
meus valores, e viveria apenas um dia de cada vez, sem atropelar o ritmo
natural das coisas, para construir um patrimônio que hoje, ao olhar para ele,
percebo que não possui nenhum sentido que tenha valido a pena eu perder a minha
saúde por ele.
Desculpe por eu tomar
o seu tempo com os meus problemas. Mas é que, eu desejo deixar registrado a
minha história de vida, para que outras pessoas não venham a passar pelas
mesmas coisas que eu estou passando.
Um abraço fraterno.
Pedro.
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